No início do século XX iniciou-se um dos maiores e mais fortes matrimônios filosóficos já vistos na história. Anteriormente, o século XVIII foi vítima de uma das doutrinas mais sombrias e individualistas: o liberalismo ateu, que teve seu apogeu com a Revolução Francesa, onde seu pensamento laicista e individual causou fortes influências no mundo todo, diferentemente do liberalismo-conservador inglês, que renovavou as instituições políticas e trouxe novos ares para o desenvolvimento cultural. Pois bem, este pensamento foi aos poucos se reforçando com as "modas" dos séculos que o procediam, como o gnosticismo - a busca de Deus para si mesmo, na qual os seus praticantes, alguns à serviço da chamada New Age, afirmavam ser apenas a prática do "conhecimento espiritual" - e o secularismo - a negação militante a toda e qualquer religião, principalmente através da doutrina niilista -, mas foi no século XX que ele atingiu seu apogeu.
Paul Johnson indica no livro "Tempos Modernos" o início de uma doutrina que, a partir da teoria da relatividade de Einstein, confundiu ciência e circunstâncias humanas criando uma idéia de que nada, absolutamente nada, era relativo. Não somente o tempo e o espaço, mas também as circunstâncias, as relações humanas e (pasmem) até mesmo Deus! Era o que faltava para Nietzche dormir bem e para que Einstein, que era judeu praticante, não conseguisse se conformar com tamanha situação.
E assim, ocorria na prática o chamado perfil dionesiano, o qual Nietzche havia conceituado. Para ele, este seria um homem sem sonhos, sem caminhos, movido apenas pelo seu impulso e sua busca intensa por satisfação - seja ela riqueza, poder ou prazer - pois o que vale, segundo ele, é o homem ser o super-homem que Deus não foi, porque foi "morto". O perfil dionesiano rejeita a felicidade, aquele objetivo naturalmente humano que se busca através das relações humanas e do reconhecimento de sua dignidade, e faz isso pelo seu bem próprio. Bem do próximo? Bem comum? O que é isto para o dionesiano, afinal? Provavelmente algo sem importância e estaríamos atrapalhando o seu comodismo ocioso fazendo-o perder tempo para pensar o que seria.
Parece exagero, mas não é: o dionesiano é o relativista de hoje. Seu comportamento humano padrão é baseado no individualismo, seu apego se norteia pelo materialismo e sua religião é o liberalismo econômico, aquele que rejeita a intervenção do Estado - que está justamente para regular e para defender a pessoa humana - na economia, que é o lugar onde vão se produzir riquezas, seja de forma boa ou má. Não é maior inimigo do que o coletivista, aquele que quer utilizar-se das pessoas para proveito pessoal, mas ainda assim deve ser evitado pois a sua expressão cultural é uma violação à ética, aos bons costumes e ao objetivo social da participação e da finalização do bem comum. No fim das contas, ambos serão muito mais semelhantes do que aparentam, pois cultivam uma distância muito grande da idéia de pessoa humana.
Fontes utilizadas:
- TOCQUEVILLE, Alexis de. O Antigo Regime e a Revolução. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
- NICOLA, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia - Das origens à idade moderna. São Paulo: Globo, 2005.
- JOHNSON, Paul. Tempos Moderno s - O mundo dos anos 20 aos 80. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora e Instituto Liberal, 1994.
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