terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A falência do sistema eleitoral brasileiro

O Brasil é um país ingrato. É isso mesmo que você leu. Veja bem: quando tínhamos um Império, preferimos ser iguais aos Estados Unidos, e não chegamos nem perto disso. Quando tivemos bons políticos, como Assis Brasil, Raul Pilla, Franco Montoro, Teotônio Vilela, Alceu Amoroso Lima, Gaspar Silveira Martins, entre outros, os calamos, ou permitimos que os calassem. Quando tivemos um sistema eleitoral majoritário, regionalizado e distrital - que estava a sair do berço imperial - nós o rejeitamos e impusemos um sistema proporcional decadente, no qual a pessoa do candidato, aquele que é representante do povo, é menos valorizado que sua legenda, e, sucessivamente, os candidatos mais preparados e que querem praticar o bem comum são ofuscados por aqueles que tem farta exposição na mídia.

O sistema eleitoral brasileiro está chegando ao ápice de sua óbvia e prevista decadência, já percebida por muitos e, por isso, alguns parlamentares de grande transito no Congresso Nacional inventaram o que eles chamam de "reforma política": um projeto que permite que as campanhas sejam pagas com verba privada. Será que nossos problemas acabaram? Claro que não! Trata-se de mais uma fachada. Um projeto enfeitado e travestido para engolirmos uma reforma política que não é uma reforma política de verdade, mas uma mísera mudança no sistema eleitoral para permitir que os partidos continuem a empurrar o corporativismo, ou quem faz voto, para dentro do Congresso Nacional e assim fortifiquem suas bancadas para serem capazes de exigirem cada vez mais cargos do Executivo. E não estou exagerando, a realidade política brasileira atual é, de fato, uma Caixa de Pandora, somente para quem tem estômago.

Reformas políticas se fazem modificando as instituições, as estruturas constitucionais e políticas que fazem com que o Estado, a instituição maior, seja aperfeiçoada conforme a atualidade assim o demande. Já boas instituições podem durar e funcionar por séculos, vez que as crises jamais serão grandes o bastante para elas, e um exemplo disso é a Inglaterra, que continua firme e forte com um sistema de monarquia parlamentarista semelhante ao que o Brasil possuía na época do Império, o que Max Weber poderia explicar pela legitimidade que há nas tradições políticas em face de uma nação. Tradição essa que perdemos para uma história que foi ofuscada pelo historicismo marxista, o qual fui formado na época em que estava no Colégio, e que certamente seus filhos também estão o sendo.

Voltando ao sistema eleitoral, o caráter do voto mudou desde a República de Vargas. Antes, o voto era ligado principalmente numa liderança partidária, isso em nível nacional - como ocorria com o PTB de Vargas - mas também em nível regional - como ocorreu com a refundação do Partido Libertador, por Assis Brasil e Raul Pilla, que sucessivamente derrubaram o ditador e presidente do Rio Grande do Sul, Sr. Júlio de Castilhos. Já neste momento, o voto é resultado de uma admiração e de uma identificação do eleitor com o seu candidato, havendo um fenômeno de personificação do voto, acima do partido do candidato, e isso por um lado é bom, uma vez que se trata de uma ligação entre cidadão e representante. Ademais, o voto de hoje tem um caráter completamente distrital, ou seja, os verdadeiros representantes saem de uma região só, o que também é muito bom.

Com estes dados, façamos a análise: se tudo é bom, por que estamos elegendo este tipo de gente, sem instrução e preparo, para exercer uma função tão nobre? Porque o sistema é de caráter personalista, mas, por decisão do STF, o verdadeiro dono do mandato é o partido, e porque o sistema é de caráter distrital, mas o voto não é distrital, é aberto em face de todo o Estado-membro.

É por essas falhas institucionais que passamos a alimentar maquinas eleitorais capazes de fazerem votos em um estado inteiro, isso quando não nos rendemos a votar em celebridades sem qualquer contribuição ao bem comum, mas cheias de exposição na mídia, como Romário e Tiririca.

Ademais a estes problemas, aos quais a instituição política não está pronta a preencher a demanda de representação social do cidadão, o problema da verdadeira função do Legislativo foi deturpada com a escolha do sistema de governo presidencialista - mais uma vez, uma pedra no sapato de nossa história - isso porque a Constituição Federal de 1988 possui traços parlamentaristas, que previam que a função de governo ficaria com o Legislativo, e não com o Executivo, que possui agora a de governo e a de Estado, incompatíveis entre si para o verdadeiro exercício do bem comum.

Por isso, pergunto a você leitor, em relação à "reforma política" colocada em tramitação no Congresso Nacional: é reparando arestas e escondendo a poeira debaixo do tapete que se resolvem problemas político-institucionais? Ou é modificando e atualizando este sistema pela raiz, a fim de que ele seja promotor do bem comum e não do bem partidário?

2 comentários:

  1. Ótima matéria Bruno. Você disse tudo. Como havia dito para você é um assunto para gente grande. Vou dar o meu humilde palpite em meio a tanto conhecimento.

    Hoje colhemos por aquilo que plantamos... Quer dizer, os nossos antepassados plantaram. E pelo visto vamos plantar muita bobagem no qual os nossos filhos infelizmente irão colher os frutos (qual nome pode dar, aos problemas?!)

    O ditado: "Uma imagem vale mais que mil palavras." É o que expressa o nosso sistema político. As pessoas votam pela aparência, poder, fama e não pelas propostas.

    Tiririca diz: "Pior que tá não fica." Pode até parecer cômico para não dizer bizarro: Sim, pode ficar muito pior e se não agirmos vai piorar mesmo o nosso já defasado sistema político.

    Meu Brasil... Só Deus para nos salvar de tanta burrice. Elegeram pessoas e não homens... Que Deus nos proteja.

    Tiririca - Romário - Sarney - Marta entre tantos outros... São eles que decidem o nosso futuro.

    Atenciosamente, Matheus Pires

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  2. Não se humilhe rapaz, os maiores Doutores da Igreja Católica eram pobres e humildes. Por detrás de uma humilde opinião há uma sede de conhecimento para utilizá-lo para fins bons, isso é excelente e admirável.

    Porém, não se trata bem do problema de votar em Tiririca ou Romário, ou Sarney, etc... Mas sim do porque se permitem votar. Porque outros países não elegem palhaços? Porque outros países valorizam estadistas e governantes de primeiro gabarito e aqui não? É a instituição o problema meu amigo, não é a ética.

    Se a instituição fosse algo nada importante, o Filho de Deus não teria vindo à terra criar uma. E mais: não teria a amado como se fosse sua mulher.

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