Nossos pastores devem receber o nosso respeito por serem simplesmente nossos pastores, correto? Ora, se estamos a falar de um respeito humano, devido a todo o ser humano, certamente sim. Já se estamos a falar de um respeito e adesão total às suas opiniões, o próprio Concílio Vaticano II na Constituição Apostólica Lumen gentium afirma que, individualmente, ou seja, fora da comunhão com o Sucessor de Pedro (o Papa), estes não detém de infalibilidade nas suas opiniões. Sendo assim, quando assim o fazem, lhes devemos respeito, mas não concordância. Verbis:
Embora os Bispos, individualmente, não gozem da prerrogativa da infalibilidade, anunciam, porém, infalivelmente a doutrina de Cristo sempre que, embora dispersos pelo mundo mas unidos entre si e com o sucessor de Pedro, ensinam autenticamente matéria de fé ou costumes concordando em que uma doutrina deve ser tida por definida (76)
Não é a primeira vez que a CNBB se mete nesse assunto de interesse globalista que é o ativismo ecológico. Isso já havia ocorrido na Campanha da Fraternidade de 2011, quando utilizaram-se do tema "A criação geme em dores de parto" (Rn 8:22) para promover uma campanha desse cunho, da qual não havia qualquer finalidade humana, muito menos espiritual.
Poderia ser implicância minha, na qual poderia eu ser taxado como um ortodoxo lunático, não fosse uma opinião de mero bom senso fundada na própria palavra do Papa Bento XVI em relação à Campanha:
O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e àquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela criação. Por isso, a primeira ecologia a ser defendida é a “ecologia humana”[grifo nosso] (cf. Bento XVI, Encíclica Caritas in veritate, 51). Ou seja, sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, neste contexto, daqueles que perderam tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio-ambiente[grifo nosso].
Ou seja, o Santo Padre em pessoa afirmou para a CNBB que sua campanha estava errada! E, sim, havia uma razão muito simples para pedir que esquecessem da ecologia verde e se focassem na ecologia humana. Lembrem-se que, em 2011, o julgamento do Supremo Tribunal Federal em relação ao aborto de anencéfalos já estava na iminência de acontecer e as únicas ações da CNBB em relação a isso foram tardias e próximas ao julgamento somente em 2012! Essas ações, como instituição episcopal, foram uma divulgação de uma nota e uma vigília em frente ao STF.
Não houveram quaisquer ações em 2011 por parte da instituição CNBB - se não por parte de seus bispos individualmente - que lembrassem a preservação da vida, principalmente nos casos mais delicados de anencefalia, como pediu o Papa Bento XVI.
Neste total ambiente de alienação, principalmente entre os católicos, o julgamento ocorreu e a eugenia venceu. Nem sequer soube-se de qualquer declaração da CNBB após o evento, em relação a haver plena excomunhão dos ministros que se manifestaram à favor da barbárie, como é de praxe ocorrer ao redor do mundo.
Em consciência da infalibilidade papal em relação a essa importância à vida e da desobediência que de fato ocorreu, voltemos a falar da Campanha da Fraternidade de 2011.
O site Deus lo Vult! publicou uma contagem das palavras contidas naquele texto-base da campanha para provar que de espiritual aquela campanha nada possuía. O resultado quando colocamos radicais referentes ao materialismo versus os relacionados ao espiritual, acima da contagem da finalidade quaresmal da oração (com quatro ocorrências), é o seguinte:
Espiritual:
-“Deus”: 155 ocorrências.
-“Eucaristia”: 16 ocorrências.
-“Jesus”: 14 ocorrências.
-“Pecado” (e derivados): 11 ocorrências.
-“Papa”: 8 ocorrências.
-“Santificação” (e derivados): 7 ocorrências.
-“Católica” (e derivados): 6 ocorrências.
-“Bíblia”: 6 ocorrências [mais duas no título de duas citações, à página 32].
-“Salvação” (e derivados): 5 ocorrências.
-“Nosso Senhor”: 5 ocorrências.
-“Oração”: 4 ocorrências [sendo três nas primeiras páginas e uma referência à oração de São Francisco em louvor pelas criaturas].
Material:
-“Produção” (e derivados): 98 ocorrências.
-“Desenvolvimento” (e derivados): 74 ocorrências.
-“Energia”: 69 ocorrências.
-“Terra”: 69 ocorrências.
-“Água”: 59 ocorrências.
-“Ambiente”: 59 ocorrências.
-“Efeito estufa”: 58 ocorrências.
-“Aquecimento”: 51 ocorrências ["aquecimento global", 42].
-“Consumo” (e derivados): 50 ocorrências.
-“Ecologia” (e derivados): 37 ocorrências.
-“Carbono” (e derivados): 36 ocorrências.
-“Governo” (e derivados): 32 ocorrências.
-“Economia” (e derivados): 32 ocorrências.
-“Alimento” (e derivados): 29 ocorrências.
-“Pobre” (e derivados): 20 ocorrências.
-“Temperatura”: 23 ocorrências.
-“Lucro”: 15 ocorrências.
-“Petróleo”: 10 ocorrências.
-“Exploração” (e derivados): 10 ocorrências.
Assim, fica evidente o cunho extremamente político e não espiritual da Campanha da Fraternidade de 2011. Porém, ela ainda fica pior quando vemos o site Fratres in Unum publicar a letra do hino da CF de 2011: um verdadeiro culto pagão à "mãe natureza", ao comunismo e à chamada Nova Era.
1. Olha, meu povo, este planeta terra:
Das criaturas todas, a mais linda!
Eu a plasmei com todo amor materno[grifo do site Frates in unum],
Pra ser um berço de aconchego e vida. (Gn 1)
Nossa mãe terra[grifo do site Frates in unum], Senhor,
Geme de dor noite e dia.
Será de parto essa dor?
Ou simplesmente agonia?!
Vai depender só de nós!
Vai depender só de nós!
2. A terra é mãe, é criatura viva[grifo do site Frates in unum];
Também respira, se alimenta e sofre.
É de respeito que ela mais precisa!
Sem teu cuidado ela agoniza e morre.
3. Vê, nesta terra, os teus irmãos. São tantos…
Que a fome mata e a miséria humilha.
Eu sonho ver um mundo mais humano,
Sem tanto lucro e muito mais partilha![grifo do site Frates in unum]
4. Olha as florestas: pulmão verde e forte!
Sente esse ar que te entreguei tão puro…
Agora, gases disseminam morte;
O aquecimento queima o teu futuro[grifo do site Frates in unum].
5. Contempla os rios que agonizam tristes.
Não te incomoda poluir assim?!
Vê: tanta espécie já não mais existe!
Por mais cuidado implora esse jardim!
6. A humanidade anseia nova terra. (2Pd 3,13)
De dores geme toda a criação. (Rm 8,22)[grifo do site Frates in unum]
Transforma em Páscoa as dores dessa espera,
Quero essa terra em plena gestação!
E a coisa, meus caros, vai piorar ainda mais!
O texto-base da Campanha da Fraternidade de 2011 foi retirado do site da CNBB, se em comparação com o da CF deste ano, muito mais espiritual e em comunhão com a Igreja Católica. Não obstante, na internet a semente ecológica do texto-base se espalhou em sites ativistas e de esquerda.
Existe uma razão grave para ter sido retirado do site da CNBB: uma falsa citação do Santo Padre. Não, você não leu errado. Vejam o conteúdo do item 149 do referido texto:
149. O Papa Bento XVI tem manifestado grande preocupação pelas questões ambientais, tanto que em seu pronunciamento na abertura da Conferência de Aparecida, disse: “com muita frequência se subordina a preservação da natureza ao desenvolvimento econômico, com danos à biodiversidade, com o esgotamento das reservas de água e de outros recursos naturais, com a contaminação do ar e a mudança climática. As possibilidades e eventuais problemas da produção de agrocombustíveis devem ser estudadas, de tal maneira que prevaleça o valor da pessoa humana e de suas necessidades de sobrevivência. A América Latina possui os aquíferos mais abundantes do planeta, junto com grandes extensões de território selvagem, que são os pulmões da humanidade. Assim, se dão gratuitamente ao mundo serviços ambientais que são reconhecidos economicamente. O estilo de vida dos paises desenvolvidos seria o principal causador do aquecimento global”(78). Assim, temos afirmações claras sobre o tema nas conclusões de Aparecida que entende as questões ecológicas como um dos novos aerópagos da evangelização(79). Este é um exemplo de como Bento XVI tem inserido as temáticas relativas ao meio ambiente nas discussões e documentos mais relevantes da Igreja.
Lamentável é que a fala do Papa Bento XVI - remetida pela citação de número 78 - não se destina ao seu pronunciamento na Conferência de Aparecida, mas ao livro "Ecologia nos documentos da Igreja Católica", do Frei Ludovico Garmus! Note também, caro leitor, que o Pontífice Romano jamais citou qualquer referência ao menos parecida a esta fala no seu discurso em Aparecida. Sendo assim, não precisamos sequer estender nossas provas para afirmar: quando a CNBB, a instituição episcopal que escreveu este texto, trata de ecologia sem pensar na pessoa humana, ela está sim fazendo isso sem qualquer comunhão com o Papa Bento XVI.
No dia 1º de dezembro de 2011, a mesa da CNBB retornou a forçar novamente o assunto. Seu alvo, desta vez, não era somente o aquecimento global, mas o Código Florestal aprovado democraticamente pelos representantes do povo, contrários à vontade de "Vossa Majestade", a "presidenta" abortista admitida, Dilma Rousseff. Assim, emitiram uma nota, como é de costume, alertando para os "perigos" da nova lei, aprovada democraticamente no dia 25 de abril de 2012. Da redação da referida nota podemos destacar o seguinte:
Diferentemente do que vem sendo divulgado, este projeto não representa equilíbrio entre conservação e produção, mas uma clara opção por um modelo de desenvolvimento que desrespeita limites da ação humana.
Talvez a referida instituição não saiba, mas as mudanças do Código Florestal são mínimas para uma verdadeira valorização da vida humana, através do trabalho, da propriedade e do desenvolvimento, em face a uma preservação imotivada, caracterizada pelo culto vazio a tudo que é verde em preferência ao que é feito à imagem e semelhança de Deus.
A nova legislação prevê, como principal meta, a retirada do monopólio controlador do CONAMA - o órgão deliberativo ambiental da União - que atualmente detém de todo o poder para dar licenças para obras que demandem o desenvolvimento de certas regiões, a fim de dar liberdade para que os estados legislem sobre o tema de acordo com a necessidade de preservação e de desenvolvimento que possuírem, o que respeita, sim, a gregos e troianos.
Porém, o que surpreende não é somente a CNBB classificar o agronegócio que alimenta milhões de brasileiros como "grupos específicos contrários ao bem comum", mas a crueldade em que afirmam a questão dos morros que, segundo eles, "perderão sua proteção, sujeitados a novas ocupações agropecuárias que já se mostraram equivocadas". Ora, a grande maioria que plantam nestes morros são agricultores familiares de baixa renda, que somente aquele imóvel possuem e não perderão sua terra em razão do novo Código Florestal, mas justamente pela proibição do gozo de suas propriedades, o que será mantido se o Código não for aprovado. Como pode ser "o bem comum" a limitação do trabalho humano para sobrevivência, em face a uma preservação irracional de um espaço de total inércia ambiental? Não somente reitero a crueldade dessa afirmação, como afirmo a sua total falta de caráter humano.
O texto ainda comete um "non sequitur" ao afirmar "O cuidado com a natureza significa o cuidado com o ser humano. É a atenção e o respeito com tudo aquilo que Deus fez e viu que era muito bom (cf. Gn 1,30)". A afirmação é relativa à própria redação bíblica do Genesis:
Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. (27)
Deus os abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra[grifo nosso]." (28)
Deus disse: "Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento[grifo nosso]. (29)
E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda erva verde por alimento[grifo nosso]." E assim se fez. (30)
Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom[grifo nosso]. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia. (31)
Ou seja, Deus dá a submissão e a dominação da terra, dos animais, de toda vegetação para que ao homem não falte alimento, e nossa Conferência Episcopal, à qual devemos respeito e confiança plena como pastores, afirmam que o que Deus "viu que tudo era muito bom", não era o que Deus de fato viu, mas o que os humanos e os globalistas vêem?
Até quando nossos pastores unidos em conferência, aqueles que devem nos mostrar a porta, continuarão a proibir suas ovelhas de se alimentarem do próprio pasto, fornecido pelo próprio Senhor Deus, o dono do celeiro?
Senhores bispos, com todo o respeito e consideração que tenho pelos senhores, é com pesar que tenho de escrever publicamente artigos como este para que ao menos se inicie ao menos um debate com os fiéis, a fim de promovermos a vontade verdadeira de Deus que, certamente, não será resultado de um unilateralismo ideológico, mas uma caridade profunda ao deliberarmos com todos os lados, em especial o que tenta conservar os valores ocidentais que foram, ao longo dos anos, sustentados e alicerçados pela Igreja Católica e reforçaram a moral judaico-cristã no mundo inteiro.